quinta-feira, 6 de março de 2008

Uma das coisas mais engraçadas (ou estranhas, ainda não sei bem qual o termo mais apropriado) que há quando se tem o hábito de escrever é (re)ler textos antigos que você mesmo escreveu.

Estava fazendo uma pesquisa sobre o Erecom Piauí e Google trouxe até mim um texto que eu escrevi sobre temas dos pré-encontros do Erecom 2007. O interessante é que não reconheci meu próprio texto até ver a minha ssinatura ao final dele. A forma de escrever me parecia familiar, identifiquei-me com as idéias expostas, mas não lembrava que o tal texto era meu... Kkk!!

Dei uma editada, mas lá vai ele (não lembro o título, mas o tema era homo-afetividade feminina):

"É difícil lidar com as diferenças, quaisquer que sejam elas. O ser humano convive muito melhor com aquilo que converge com sua forma de ver o mundo do que com as coisas que lhe fogem ao controle ou que para ele não fazem sentido. Essa é a natureza do ser humano. Alguns convivem melhor com isso e outros nem tanto. Muitos simplesmente ignoram que as diferenças existem e devem ser respeitadas, por maior que sejam; e esse é um dos grandes problemas da sociedade atualmente, a intolerância.

A questão da sexualidade é uma das que mais fomenta preconceitos, e, por conseguinte, opressão. Não fosse assim, não haveria tantas designações para a orientação sexual de cada um: heterosexuais, homossexuais, homo-afetivos, gays, lésbicas, bissexuais, travestis e (genericamente) transgêneros. Desde quando gostar de ou fazer sexo com pessoas do sexo oposto ou do mesmo sexo identifica o valor de uma pessoa? Para muitas pessoas, isso pode ser fundamental na hora de lidar com alguém. Por mais pífio que possa parecer, isso acontece, na maioria das vezes, por que as pessoas tendem a desrespeitar aquilo que vai contra suas convicções.

Muito popular no Brasil, a denominação “enrustidos” é comumente utilizada para falar de pessoas homossexuais que não assumem sua orientação sexual, quer por vergonha da sociedade, quer por vergonha de si mesmos. E se o termo é tão conhecido e tão utilizado, é porque muitas pessoas não vêem outra forma de “viver com tranqüilidade” a não ser escondendo sua homo-afetividade. E se tantos homossexuais não admitem que gostam de pessoas do mesmo sexo, é porque muitos problemas (que em boa parte dos casos vêm como em um efeito cascata) essas pessoas enfrentam. E a causa desses problemas também tem designação: preconceito.

Para as mulheres homo-afetivas, o problema é ainda mais sério. Ao longo da história, a sexualidade da mulher foi, em muitas civilizações, reprimida. O ato sexual era tido apenas como meio de reprodução. O prazer feminino é uma “conquista” recente. O direito a uma orientação sexual livre é algo que ainda deve ser alvo da luta (não apenas de lésbicas, mas das mulheres em geral), algo pelo qual ainda se vai gritar, batalhar, queimar sutiãs e o que mais for preciso.

Aos poucos a sociedade vai desconstruindo a imagem da lésbica meio “mulher-macho” (ou meio “macho-e-fêmea” para alguns), masculinizada, arredia. Por ser homossexual, a lésbica não deixa de ser mulher, não tem de necessariamente se portar, vestir ou agir como homem. E mesmo que ela assim se porte, se vista ou haja, ninguém tem o direito, tão pouco motivos, para repreendê-la por ser assim. A feminilidade é intrínseca da mulher, não é prova de virtude ou de bom caráter.

Ver no rosto pasmo das pessoas o peso do preconceito é possivelmente a forma mais cruel de uma lésbica encarar a pequenez da sua sociedade. Não é a orientação sexual que faz alguém estar certo ou errado, pois essa distinção simplesmente não existe; é apenas uma convenção que a sociedade estipulou para tentar controlar aquilo que é incontrolável, o livre-arbítrio. Taxar, reprovar, reprimir, repreender, oprimir, ou desqualificar alguém assumindo como parâmetro tão somente sua orientação sexual é uma mostra de quão distante a sociedade está de entender a si própria. "


Bjooo!

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