terça-feira, 7 de abril de 2009

Dia do jornalista

Eu até estava pensando em escrever sobre jornalistas, jornalismo e afins, já que hoje, 7/04, é dia do jornalistas.

Poréeem, depois de abrir a página de opinião da edição de hoje do ODIA e me deparar com o formidável artigo escrito por Raimundo Filho, meu ex-editor-chefe e uma das minhas referências profissionais, desisti.


"Será arte?
Meu conterrâneo, ídolo e amigo, João Cláudio Moreno, disse-me, certa vez: “Se você vir alguém falando mal de jornalista pode ter uma certeza: trata-se o falastrão de um jornalista”. Aquilo não me saiu mais da cabeça. Eu, àquela época, um reles “Foca”, atônito e indeciso, como muitos que debutam na Selva do Jornalismo. Anos depois, concluí que Moreno, grande observador do cotidiano humano e portador de inteligência favorecida, apenas pescou um fato reiterado nas redações, nas mesas de bar, nas pautas de sindicatos, nas conversas informais, nos cafés entre colegas para embasar sua fala, qual seja o da desvalorização da profissão de jornalista por quem propriamente a exerce. Não se sabe ao certo qual a explicação para o fenômeno da autoflagelação profissional jornalística. Talvez os baixos salários, que afetam a maioria. Quem sabe as pesadas jornadas, que estressam colegas, afastam famílias e desgastam a saúde. Ou até a visão folclórica de que todo jornalista queria mesmo era ser artista. Não o foi porque a inspiração, apesar de muita, não era bastante. Isso, de certo modo, nos remete a frustrações incômodas, justificadoras, supostamente, da saraivada de balas que disparamos nos próprios pés, assim que surge a primeira oportunidade de cortar exageradamente na própria pele, a ponto de espichá-la como a um couro de bode. O que nos acalenta a todos é a certeza de que tal ladainha não faz eco lá fora, ou seja, de que tais palavras carecem de um feedback considerável na sociedade. È mais uma coisa de nós para nós mesmos. Tais gestos, de se desmerecer, são como as palavras duras, porém sem consistência, que casais apaixonados, num ritual de fogo amigo, desferem no calor de uma briga, num ensaio de desamor incipiente. O que se vê no seio da população é justamente o contrário disso: é a veneração do profissional de jornalismo como uma espécie de Salvador da Pátria, interpretado - e confundido -, muitas vezes, como um promotor público, como um juiz, como um padre ou um outro ofício ainda não carcomido pelo descrédito popular, neste Brasil de instituições ainda tão fragilizadas e de corrupção endêmica. Hoje, Dia do Jornalista, combinemos o contrário, ainda que isso beire o ufanismo. Hoje, a pauta deve ser o orgulho de desempenhar tão valoroso mister. Orgulho, repita-se, sentido não de forma alheia pelos que não são nossos pares, mas mirados que estes estão no prestígio e no reconhecimento da nossa profissão. Agradeçamos, hoje e sempre, por fazer parte de uma classe retratada no cinema, no teatro, na literatura, na TV, nas artes como um todo, como sinônimo de perspicácia racional, de fertilidade mental, de referência intelectual, que nos remete à categoria de verdadeiras enciclopédias ambulantes, num tempo em que a musculatura já esnoba a cultura. Valorizemos o prestígio dos nossos jovens universitários, que hoje escolhem a nossa profissão nas academias numa quantidade só dantes vista nos tradicionais cursos de Direito e de Medicina. Honremo-nos, acima e antes de tudo, pelo rótulo dos mais agradáveis que nos atrelam, qual seja o de porta-vozes dos desvalidos, dos emudecidos, dos ignorados de toda monta. E façamos da autocrítica tão-somente o fiel da balança, que nos previna dos excessos, que nos controle a vaidade, que nos acentue a auto-estima. O próprio João Cláudio Moreno, no início de seus shows, sempre alude ao fato de, no começo de sua gloriosa carreira, desconfiar de que aquilo que fazia – o humor – não era arte. Talvez uma sub-arte, achava o humorista. Arte, para João, era, por exemplo, escrever. Tanto que ele próprio fez jornalismo. Portanto, parece ser mesmo coisa de artista esse negócio de achar que arte quem faz é o vizinho, que executa o que ele não consegue como se chupasse laranja. Quem dera um de nós termos o domínio de todas as artes e de todas as sub-artes, o que, infelizmente, não seria humano, porque é divino. Diante disso, a nós, jornalistas, já nos consola escrever, com arte, sobre todas as expressões artísticas e sobre todas as coisas que se definam em palavras."



Não há nada neste artigo que eu não quisesse escrever...

BjoS!!

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